E parece campeonato brasileiro dos tempos do mata-mata em que alguns times chegavam na metade do ano, já sem chances e em outubro ou davam férias aos seus atletas ou iam jogar amistosos caça-níqueis. No caso do Deportivo Mustela não chegaram convites para os amistosos, então chegaram as férias.
Foi um ano muito ruim, muito triste para um furão acostumado a grandes estripulias. Desde a sua fundação, no nem tão distante 15 de Março de 2010 o Furão não falhava um ano sem que ao seu final tivesse ao menos uma grande aventura, um grande feito - nem sempre relacionado a resultados, mas sempre capaz de gerar orgulho aos sócios e simpatizantes. Muitos não concordam, muitos acham gabolice, outros por ciumes mesmo - mas o fato é que o Furão nasceu grande se comparado ao seu universo, aos que são da sua <>. Clubes amadores tradicionais da cidade, excluídas as inserções de investimentos poderosos e interesseiros, não conseguiram chegar onde o Furão ousou meter o focinho.
Mas, eis que o desgaste vem, a manutenção e a reposição não é fácil e depois de 5 anos o Furão perambulava moribundo já sem o mesmo viço de outrora. Futebol amador é para quem gosta de futebol, por abnegados, por aqueles que muitas vezes abrem mão do sono, de horas de convívio familiar e por vezes requer até que o próprio bolso contribua, independente do papel se somente atleta de fim de semana ou gestor. Aliás, gestor de futebol amador significa contribuir com o próprio couro quase que na acepção da palavra. Quem pensa em beneficiar-se ou que o clube terá vida própria - está no lugar errado. Falávamos ainda neste sábado com os líderes do La Barca e lá não é diferente, em nem esperávamos que fosse - são pessoas que levam a agremiação nas costas.
Pois bem, esse Furão moribundo e envergonhado se obrigou a comunicar seus co-irmãos de que estaria se recolhendo para lamber suas feridas num retiro sabático em busca de um alento e de forças para buscar uma retomada. Estava assim encerrando o ano de 2017 ainda no mês de Março com apenas três jogos na temporada. Mas acreditamos que foi o melhor a fazer - não se pode perder a essência em nome apenas de manter um calendário, há que ser digno dos feitos já realizados e honrar as amizades, as grandes amizades que o Furão fizera dentro das quatro linhas.
E o destino é emblemático, pois o Leandro não desmarcou apenas um compromisso - mesmo com o coração ferido por aqueles outros co-irmãos que nada fizeram de mal para não merecer o mesmo destino, mas coube ao La Barca F.C. de Porto Alegre, comandado pelo Jornalista Cleber Grabauska manter o compromisso e nele o fiapo de esperança ao combalido Mustela. Aquele mesmo La Barca que começou a jogar conosco lá no acanhado campo do Floresta em um jogo marcado após uma interação por internet discutindo campos abandonados no interior da Serra e a falta de gramados na grande Porto Alegre, também em função do fechamento dos campinhos de várzea da região do Humaitá.
E o teste para o Furão demonstrar em que estado se encontrava o seu espírito não podia ser mais exigente, a equipe do La Barca F.C. não bastasse ser uma agremiação que mantém seus pares e com eles a grande qualidade de sempre, a bem pouco deu uma prova de força ao vencer a Copa Litoral neste verão.
Mas como dar sobrevida ao Furão Tricolor?
Bem, existe uma máxima que diz que o bom guerreiro não precisa convocação, basta ver seu castelo em perigo e estará de prontidão. Com o Deportivo Mustela não foi diferente, bastou a informação de que o Furão necessitava honrar seu compromisso de forma digna, que se arregimentaram forças que até então estavam inertes. E acho que não vieram todos, mas vieram o suficiente para mostrar que na casa do Furão só tem festa se ele autorizar. Mas jogo marcado, é jogo jogado.
Às 10 horas e 30 minutos, tanto a equipe do Furão como o La Barca iniciaram o processo de fardamento e às 11 horas os times iniciaram a peleja. O La Barca parecia até de sangue doce tal a confiança na repetição do último resultado, tal foi a elasticidade do placar naquele encontro. Mas o jogo mostrou um outro cenário, a dupla de zaga do Deportivo Mustela com grande imposição e solidez, os laterais fazendo a sua função corretamente, na frente da área o meio de campo dominou as ações quase o tempo todo e dando apoio ao ataque foi que o Furão mostrou a sua força. Não foi esquecida a qualidade do adversário e por isso o primeiro tempo teve um equilíbrio grande, mas o controle do jogo esteve quase que invariavelmente na mão do Mustela.
E para premiar esse desempenho, primeiro gol foi resultado de uma bela jogada com trocas de passes rondando a área do jalde-negro metropolitano, até a bola rolada encontrou Jaderson a vontade para arrematar forte e certeiro no canto direito do goleiro labarquense. Com o gol sofrido, o time da capital tentou a reação mas parava sempre na excelente marcação do Deportivo Mustela. Houve apenas uma boa chance no primeiro tempo para o time da Capital, mas o arremate foi ruim e saiu em tiro de meta. Já o Furão teve boas situações e em um arremate de longe por cobertura, Eder fez um golaço ampliando o placar para 2 a 0.
Com o gol, o time da Capital se desestabilizou um pouco e o juiz acabou sendo eleito para ser o culpado pelo resultado até o momento. Vendo o jogo de fora, pode-se falar de alguma inversão de falta pra lá ou pra cá, mas nada que viesse a influenciar no resultado, aliás teve atleta do La Barca tomando dois cartões amarelos e num fair play arbritral lhe foi concedido o perdão - para demonstrar que não era má vontade do juiz.
E assim encerrou-se o primeiro tempo, com 2 a 0 no placar. No intervalo, o treinador interino Bitcha (o seu Adroaldo novamente deu migué e não compareceu) conversou com a equipe e seguiu promovendo as alterações de modo cirúrgico visando não descaracterizar o esquema e permitir fôlego ao time. Neste cenário, começaram a aparecer alguns velhos conhecidos como o Joel, o Jesus, o Alosir e até um ex-zagueiro que hoje mais parece a bola apareceu em campo. Assim o Lahm voltou a fardar a 3 do Furão e para participar foi fazer um número de centroavante visando não comprometer o bom trabalho defensivo do time que estava em campo até ali. E o tamanho (da pança) do centroavante pareceu preocupar a defensiva do La Barca que deixou pelo menos dois defensores (ou seriam para-médicos???) na sua marcação. O fato é que no final do jogo o La Barca já tinha arrefecido um pouco a pressão e até surgiram alguns espaços para o ataque do Furão perder pelo menos duas boas oportunidades de ataque.
O fato é que ao final do jogo, ficou bem claro que as duas equipes tiveram doação, mas hoje o time da Serra foi mais competente tanto na destruição das jogadas do adversário, como na construção dos seus ataques e com justiça foi premiado com uma excelente e animadora vitória. Resta-nos agradecer a parceria do co-irmão La Barca que desde 2011 nos brinda com boas e sadias disputas e depois compartilha conosco um almoço que é uma excelente forma de comemorar a amizade que o futebol nos proporcionou.
Ao Deportivo Mustela agora fica demonstrado que é possível cumprir novamente um calendário de jogos, talvez não com a intensidade das outras temporadas, mas com a qualidade que o Deportivo Mustela e seus co-irmãos merecem. Já diante-mão a diretoria agradece a todos que estiveram em campo neste sábado, agradece também aos patrocinadores, amigos, torcedores e parceiros que mesmo nesta temporada de muitas dificuldades sempre estiveram ao lado do Furão Tricolor. Muito em breve estará verificando a possibilidade de reativar o calendário de uma forma que contemple a grandeza do Deportivo Mustela, bem como permita que todos sintam prazer em honrar os compromissos assumidos. Foi muito bom re-encontrar velhos amigos, e que todos possam de uma forma ou outra sempre estar por perto apoiando e se divertindo com as peripécias do Furão Tricolor.
Assim para encerrar as atividades gerais de 2017, fica esta bela vitória como um símbolo da persistência, da garra e da coragem daquele time que em muitas oportunidades já demonstrou ser diferenciado e que precisa voltar a ser motivo de alegria daqueles que gostam do futebol dos sábados.